A “cena” das toneladas de peixes mortos no Rio dos Sinos impressionou muitas pessoas. As que faziam um passeio de barco em outubro, as que viram pela televisão o noticiário, as que viram as fotografias nas inúmeras reportagens...
A re-ação a cena: exames da água, investigação por peritos, níveis de oxigênio, reuniões de diversos órgãos, autuação de empresa - procuram-se culpados...
“A poluição tem como responsável diferentes atores sociais”, afirma Rafael Altenhofen, coordenador da União Protetora do Ambiente Natural (Upan) em entrevista a Giseli Barbieri da Agência de Notícias do Planalto, Brasília.
Cena, atores sociais... Palavreado da modernidade tardia que me dá nos nervos desde que tive que escorregar por este terreno durante o mestrado! Estamos falando sobre VIDA, neste caso mais de morte, é verdade. Talvez seja preciso reavivar a memória deste triste espetáculo:
Epílogo:
Outubro /2006 – resíduos tóxicos (resíduos sólidos hospitalares e industriais - das indústrias coureiro-calçadistas, de alimentação, celulose e metalurgia), são lançados nos Arroios Luiz Hau e Portão que pertencem a Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, na Região Metropolitana de Porto Alegre, RS – 44 municípios, dentre eles Portão, Estância Velha, Ivoti, São Leopoldo e Sapucaia do Sul.
85 toneladas de peixes foram encontrados mortos no Rio dos Sinos.
Dezembro/2006 – nova ocorrência de mortandade de peixes no Rio dos Sinos: ao menos 15 toneladas de peixes aparecem mortos desta vez.
4 de Janeiro/2006 – nova mortandade de peixes, encontrados entre o município de São Leopoldo e Novo Hamburgo.
(Neste meio tempo, o Rio Tiête, como que enciumado pela falta de atenção, resolve também mostrar com as fortes chuvas a revolver os envenenados depósitos em suas profundezas o que os seres humanos lhe imputaram ao longo de anos de descaso e mais milhares de peixes aparecem mortos. Jogo de cena?)
Se estas cenas compusessem um roteiro histórico da falta de priorização da questão ambiental no Rio dos Sinos, ou em outras partes do país, deveríamos ter começado bem antes... Para ser exata, em 1957. Como relatou o Coordenador da UPAN, “textos e artigos publicados na imprensa estadual em 1957, já alertavam para esta questão, em função da mortandade dos peixes no Rio dos Sinos, da baixa qualidade de água do rio. Os documentos também já faziam avaliação que os esforços empreendidos não haviam trazido resultados efetivos para o rio (...) porque infelizmente ainda não se trabalha com planejamento e prioridade nas questões ambientais e sociais. Acaba-se trabalhando somente com questões eleitorais.”
Para entender, “baixa qualidade da água do rio”, hoje significa que o Rio dos Sinos tem classe quatro pela resolução do Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente]. Altenhofen explica que esta classificação qualifica a água como “imprópria para o consumo humano, mesmo com tratamento convencional ou avançado”. Mesmo com tratamento convencional ou avançado!
O Coordenador da UPAN, conta ainda que há ribeirinhos que bebem água diretamente do Rio dos Sinos, sem sequer fervê-la. Ou seja, se os peixes foram afetados também os seres humanos estão sendo e diretamente. Estas pessoas que consomem os peixes do Rio dos Sinos estão se contaminando. Sobre a atividade de pesca e a atividade econômica, Altenhofen afirma que a situação do rio está tão crítica que hoje poucas famílias conseguem viver diretamente e exclusivamente da pesca no rio, buscam outras regiões para trabalhar.
Faltou ao roteirista desta tragédia, incluir desde o primeiro ato educação para minimizar a ignorância que grassa em todos os níveis. Educação ambiental, instrução sanitária, consciência de como a vida se dá neste planeta, da nossa interdependência enquanto seres vivos e de como conviver para a sustentabilidade da vida.
Um rio morre! E nós, contemplamos a cena...
Será este nosso último ato, senhores atores sociais???
Os dados do IBGE apontam que 58% da população brasileira não tem acesso à rede
coletora de esgoto. E mais: 84% dos municípios do país não possuem nenhum tipo de tratamento para o esgoto que é coletado. A quase totalidade desses resíduos é despejada in natura nos cursos hídricos, aumentando a insalubridade e mortalidade que afetam a população brasileira.
O mau uso dos recursos naturais, o desmatamento, a poluição, o desperdício de água potável, a falta de políticas públicas que estimulem o uso sustentável dos recursos hídricos, e também, que estimulem a participação da sociedade e a educação ambiental, além da impermeabilidade do solo e falta de cobertura vegetal nas áreas urbanas, são fatores preponderantes para a situação com que nos deparamos. E aponta a realidade da escassez de água potável, num futuro não muito distante. E não como uma foto, uma cena – realidade!
Atualmente, mais de 1,1 bilhão de pessoas no mundo sofrem com a falta d´água. Embora exista muita água no planeta, o maior volume, 97,5%, está nos oceanos e é salgada: apenas 2,5 % é doce, mas está concentrada nas regiões polares, congelada (ou melhor, com o aquecimento global, descongelando). Resta à humanidade 0,7% da água doce da Terra, armazenada no subsolo, o que dificulta sua utilização. Somente 0,007% está disponível em rios e lagos superficiais. E estes são ameaçados pela poluição, tal como o lançamento clandestino de efluentes industriais e de esgoto doméstico não tratado.
Que façamos um SKÁNDALO!!! Que possamos despertar para a consciência do que está acontecendo e o que pode ser feito. A consciência ambiental tem que trabalhar com informação, tirar as pessoas do sono da ignorância, e com sensibilização, que é o motor da ação comprometida com a VIDA. É preciso fazer chegar informação às para que a população (ei, é com você!) não fique alheia a tudo que está acontecendo porque as pessoas muitas vezes têm vontade de participar, preservar, mas não sabem como, não sabem se determinado tipo de atividade é prejudicial ou não ao meio ambiente. Juntando informação com sensibilização, podemos gerar algo, uma ação pró-preservação das águas, um SKÁNDALO.
Com data e local. Dia 20 de janeiro de 2007, às 10 h da manhã, na estação de metrô de São Leopoldo. Isto é um convite e que este não seja nosso último ato!
SKÁNDALON é igual a VOCÊ mais CONSCIÊNCIA, junto com OUTROS, fazendo um alvoroço. Um escarcéu a céu aberto. Sim, vamos entrar em cena. Criar um tumulto que sacuda para bem longe o estado de letargia, afinal, UM RIO ESTÁ MORRENDO!
E como disse o matuto-poeta que olha a vida com os olhos de quem vive dela e nela:
"O rio é uma pessoa. Tem nome. Este nome é muito velho, porque o rio, ainda que sempre moço, é muito antigo. Existia antes dos homens e das aves. Desde que os homens nasceram, amaram e tão
logo falaram, lhes deram nomes”.
Com a licença do Aurélio, um rio não é só um curso de água, é um ser vivo que gera vida, sustenta milhares de outras espécies, algas, insetos, caranguejos, peixes, vegetais, animais e até mesmo aos humanos que o envenenam diariamente de maneira ignorante e impune.
Vamos, vamos criar uma desordem. Pois a “ordem” estabelecida é omissa quando o assunto é sustentar a vida a qualquer custo. Esta “ordem” tem gerado ignorância, miséria, destruição e MORTE. Não só de um curso de água, mas de toda a VIDA que ali fazia a sua dança.
Junte-se a este movimento pela preservação das águas. A esta alegre e criativa algazarra que aspiramos co-criar. Este rio que está morrendo precisa que você faça a sua parte, que coloque a sua cara, que mostre a sua indignação pela mortandade de peixes que há meses não pára, pela poluição, pela falta de cuidado dos homens e mulheres que por hora habitam este Planeta. Este tipo de exemplo é legítimo de legar para os seus filhos e netos. Além, do maior legado, O PRÓPRIO RIO, vivo, limpo...
Informe-se:SKÁNDALON CONSCIÊNCIA PRÓ-PRESERVAÇÃO DAS ÁGUAS
ONG PACHAMAMA –
ong_pachamama@yahoo.com.brInformações sobre programação do dia 20 pelo e-mail: ifigeniasandoval@yahoo.com.brE em Porto Alegre pelo fone (51) 3228 1805 e 9132 2360 ou
vfbaba@yahoo.com.brPor Melusina Iriarte, Diretora Administrativa da ONG Pachamama.